Pequenas Mudanças no Estilo de Vida Melhoram a Saúde Mental dos Adolescentes

A julgar pelas recentes matérias e ideias de políticas, pode-se pensar que o tempo de tela é o único comportamento de estilo de vida que influencia o bem-estar dos adolescentes.¹⁾Haslett C. Social media and youth mental health defining challenge of our time: Surgeon general. ABC News June 17, 2024 No entanto, com os jovens lutando para lidar com problemas crescentes de saúde mental, é fundamental que não tenhamos uma visão limitada e, em vez disso, lembremos de todas as formas de estilo de vida que podem desempenhar um papel importante.²⁾McGorry P et.al. Mental health of young Australians: dealing with a public health crisis. Medical Journal of Australia. doi: 10.5694/mja2.52047

Nosso estudo, publicado recentemente, acompanhou estudantes australianos do ensino médio de 71 escolas em New South Wales, Queensland e Oeste da Austrália. Com o passar do tempo, melhorias no sono, na ingestão de frutas e vegetais e na prática de exercícios foram associadas a melhorias pequenas, mas significativas, na saúde mental.³⁾Smout, S., Champion, K.E., O’Dean, S. et al. Adolescent Lifestyle Behaviour Modification and Mental Health: Longitudinal Changes in Diet, Physical Activity, Sleep, Screen Time, Smoking, and Alcohol … Continue reading

O inverso também era verdadeiro quando se tratava de comportamentos não saudáveis, como tempo de tela, comida de má qualidade, uso de álcool e tabaco.

Uma visão abrangente dos estilos de vida dos adolescentes

Nosso novo estudo com mais de 4.400 estudantes australianos do ensino médio analisa um conjunto de comportamentos de estilo de vida: sono, atividade física moderada a vigorosa, tempo de tela recreativa sedentária (inativa), ingestão de frutas e vegetais, consumo de junk food e bebidas açucaradas, uso de álcool e tabagismo.

Primeiramente, pedimos aos alunos do 7º ano (com idades entre 12 e 13 anos) que relatassem seus níveis desses comportamentos de estilo de vida e classificassem sua angústia psicológica (um indicador geral de problemas de saúde mental) usando uma escala de medição bem conhecida.⁴⁾Prochaska JJ, Sung HY, Max W, Shi Y, Ong M. Validity study of the K6 scale as a measure of moderate mental distress based on mental health treatment need and utilization. Int J Methods Psychiatr Res. … Continue reading

Em seguida, examinamos como as mudanças em cada um dos comportamentos de estilo de vida entre o 7º e o 10º ano (15-16 anos) estavam ligadas aos níveis de estresse psicológico no 10º ano. É importante ressaltar que levamos em conta o nível de sofrimento psicológico relatado pelos participantes no 7º ano, bem como seus comportamentos de estilo de vida no 7º ano. Isso significa que podemos ver os benefícios médios associados à mudança de comportamento, independentemente de onde as pessoas começaram.

Nossa pesquisa mostrou que os aumentos ao longo do tempo em comportamentos saudáveis foram associados a um menor sofrimento psicológico. Por outro lado, o aumento dos comportamentos de risco à saúde foi associado a um maior sofrimento psicológico.

O quanto faz diferença?

Em média, ao analisar a mudança entre o 7º e o 10º ano, cada aumento de uma hora de sono por noite foi associado a uma redução de 9% no sofrimento psicológico.

Cada dia adicional de 60 minutos de atividade física moderada a vigorosa por semana foi associado a uma redução de 3% no sofrimento psicológico. Cada porção diária adicional de frutas ou vegetais foi associada a uma redução de 4% no sofrimento psicológico.

Por outro lado, cada hora adicional de tempo de tela foi associada a um aumento de 2% na angústia psicológica, assim como cada unidade de aumento em alimentos não saudáveis ou bebidas açucaradas.

Como o consumo de álcool e o tabagismo são menos comuns no início da adolescência, analisamos apenas se eles haviam ou não consumido álcool ou fumado nos últimos seis meses. Vimos que a mudança de não beber no 7º ano para beber no 10º ano estava associada a um aumento de 17% na angústia psicológica. A mudança de não fumar para fumar estava associada a um aumento de 36% no sofrimento psicológico.

É importante observar que nosso estudo não pode afirmar definitivamente que a mudança de comportamento no estilo de vida causou a mudança na angústia. O estudo também não pode levar em conta as mudanças nas circunstâncias de um aluno, como em sua vida doméstica ou em seus relacionamentos. Com a pesquisa de linha de base realizada em 2019 e a pesquisa do ano 10 realizada em 2022, também houve o impacto potencial da COVID.

No entanto, nosso projeto longitudinal (acompanhando os mesmos indivíduos por um longo período) e a forma como estruturamos a análise ajudam a ilustrar a relação ao longo do tempo.

Nosso estudo não mediu o uso do cigarro eletrônico, mas as evidências mostram que, assim como o fumo, ele tem ligações claras com a saúde mental dos adolescentes.⁵⁾The impact of vaping on adolescent mental health. Australian Institute of Family Studies. October 2023

O que isso significa para os adolescentes e os pais?

As diretrizes nacionais para esses comportamentos estabelecem metas ambiciosas com base em objetivos de saúde ideais. Mas as diretrizes de exercício⁶⁾Physical activity and exercise guidelines for all Australians. For children and young people (5 to 17 years) Department of Health e diretrizes nutricionais⁷⁾Australian dietary guidelines. eatforhealth.gov.au podem parecer fora de alcance para muitos adolescentes. De fato, a maioria dos participantes do nosso estudo não estava cumprindo as diretrizes de atividade física, sono, tempo de tela e consumo de vegetais no 10º ano.

O que nossa pesquisa mostra é que uma mudança de estilo de vida saudável não precisa ser tudo ou nada.

Até mesmo mudanças relativamente pequenas – dormir uma hora a mais por noite, comer uma porção extra de frutas ou vegetais por dia, cortar uma hora de tempo de tela ou adicionar um dia a mais de atividade física moderada a vigorosa por semana – estão ligadas a melhorias na saúde mental. E a combinação de mudanças em várias áreas provavelmente o deixará em uma posição ainda melhor.

Os pais podem desempenhar um papel importante na formação de comportamentos de estilo de vida (mesmo na adolescência!). As finanças e o tempo podem ser barreiras, mas qualquer coisa que os pais possam fazer dentro de suas possibilidades é um passo na direção certa.

Por exemplo, orientar o uso saudável da mídia social,⁸⁾Taddeo C, Spears B. What can you do if you think your teen already has unhealthy social media habits? The Conversation, July 3, 2024 fazer alterações acessíveis em suas compras de supermercado para melhorar o conteúdo nutricional,⁹⁾Burch E, Ball L. Trying to spend less on food? Following the dietary guidelines might save you $160 a fortnight. The Conversation, November 27, 2023 ou até mesmo introduzir horários fixos para dormir.¹⁰⁾Dolan E W. Parent-set bedtimes result in healthier sleep patterns for adolescents, study finds. PsyPost July 26, 2023 E os pais podem reunir informações para que os jovens possam fazer escolhas positivas em relação ao uso de álcool, tabaco e outras substâncias, inclusive o cigarro eletrônico.¹¹⁾https://positivechoices.org.au/parents/

O cenário geral

As mudanças no estilo de vida podem contribuir para melhorar a saúde mental dos adolescentes, mas são apenas uma peça do quebra-cabeça. Não podemos colocar o ônus de lidar com a crise de saúde mental dos jovens apenas no estilo de vida dos adolescentes. Há muito a ser feito em nível de escola, comunidade e política para criar uma sociedade que apoie a saúde mental dos jovens.

Os jovens que estão lutando com sua saúde mental podem precisar de apoio profissional, que os pais e responsáveis podem ajudá-los a acessar.¹²⁾Birrell L et.al. I think my teen is depressed. How can I get them help and what are the treatment options? The Conversation, October 4, 2023 Os adolescentes ou jovens também podem entrar em contato diretamente com o CVV hotline (181) ou uma unidade do CAPS da sua cidade para obter recursos e apoio.

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Este artigo foi republicado do The Conversation sob uma licença Creative Commons. Leia o artigo original.

Scarlett Smout

Scarlett é candidata a doutorado e pesquisadora associada no The Matilda Centre, Universidade de Sydney.

Katrina Champion

A Dra. Katrina é pesquisadora sênior do Matilda Centre for Research in Mental Health and Substance Use e da School of Public Health da Universidade de Sydney. Ela trabalha no nexo entre prevenção de doenças e saúde mental, com foco nas relações bidirecionais entre saúde mental precária e estilo de vida insalubre. Ela desenvolve, avalia e divulga intervenções digitais para melhorar a saúde física e mental dos adolescentes.

Lauren Gardner

Lauren é pesquisadora sênior do Matilda Centre da Universidade de Sydney. Como líder do programa de intervenções de saúde nas escolas, Lauren tem experiência no desenvolvimento, na avaliação e na tradução de intervenções preventivas digitais para melhorar a saúde e o bem-estar dos adolescentes. As intervenções têm como alvo uma série de comportamentos importantes de saúde, incluindo o uso de cigarros eletrônicos e cigarros de tabaco, uso de álcool e outras drogas, atividade física, dieta, sono e tempo de tela para recreação.