Como aceitar as dores que a vida nos impõe? Como encarar a realidade dura sem fugir e sem se desesperar? Como aceitar perdas, mudanças e problemas que a vida e, às vezes, as pessoas arremessam sobre nós? Você já viveu alguma vez a experiência de receber um diagnóstico de uma doença grave? Qual foi a sua reação?
Vamos dar uma olhada em como reagimos ao passar por essa experiência e o que pode ajudar a lidar com ela. Receber um diagnóstico de uma doença complicada, como um câncer, por exemplo, produz uma série de reações e emoções, de forma imediata ou mais à frente no tempo. É comum pensar em como sua vida irá mudar com a doença e o tratamento: como será o tratamento, se terá condições financeiras para lidar com os gastos ligados à enfermidade. Pode surgir na cabeça dessa pessoa um bombardeio de pensamentos sobre ficar com sequelas ou morrer.
Por outro lado, ter um diagnóstico ajuda a direcionar o tratamento, e você pode escolher reagir a ele, empenhando-se para seguir as instruções médicas na busca pela melhora de sua saúde, pois agora você já sabe o que tem. É importante que a pessoa com diagnóstico de uma doença complicada cultive uma atitude positiva diante da doença, pois isso ajudará o corpo a fazer o melhor no combate à enfermidade. Porém, sentir raiva, medo e confusão não significa que isso fará a pessoa mais doente. Existe um tempo para ter esses sentimentos; o que pode ser ruim para a saúde é ignorar ou empurrar tais emoções para o subconsciente, fingindo que está tudo bem.
Além disso, você pode usar a raiva e o sentimento de culpa como motivação para definir alvos na direção da recuperação. Passar pelo luto é normal; o luto psicológico envolve sentimentos dolorosos diante de alguma perda. Viver o luto adequadamente ajuda a dar passos para sair dele e avançar em prol da sua saúde. Quem recebeu um diagnóstico difícil deve procurar se informar com fontes confiáveis — gente, eu disse confiáveis! — sobre a sua doença, o tratamento, a evolução e o prognóstico.
É importante lembrar que, mesmo uma informação correta, pode não se aplicar exatamente à sua situação. Por exemplo, se você foi diagnosticado com uma doença terminal e, pelas estatísticas, seu tempo de vida seria de um ano, pense que você não é uma estatística; você é um ser humano. Um professor de medicina disse uma vez — eu estava nessa aula — que “as estatísticas mostram tudo, mas não mostram o essencial”. Muitas pessoas com diagnósticos graves de doenças ficam fora das estatísticas de piora e de morte, graças a Deus.
Elizabeth Kübler-Ross, psiquiatra norte-americana, identificou o processo de aceitação de dores e perdas na vida humana, descrevendo os cinco estágios pelos quais passamos diante de fatos difíceis na nossa existência. Os estágios são: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.
Na negação, a pessoa diz: “Isso não pode estar acontecendo!” Depois vem a raiva, que traz perguntas como: “Por que eu? Não é justo!” Em seguida, surge a negociação ou barganha, quando se fazem promessas e se tenta negociar com Deus, dizendo coisas como: “Ah, me deixe viver apenas até meus filhos crescerem”. Depois, chega o quarto estágio: a depressão, expressa com frases como: “Estou tão triste; não me interesso mais por nada”. Finalmente, vem o quinto estágio: a aceitação, quando a pessoa pode concluir que tudo vai acabar bem.
Vamos dar uma olhada em cada um desses estágios, um pouco mais devagar. No primeiro estágio, a negação, o choque e o pânico tomam conta. Ao receber uma notícia ruim, um diagnóstico terrível, a pessoa recusa-se a aceitar ou reconhecer a realidade, tentando fazer tudo para colocar as coisas de volta ao lugar ou fingir que a situação não está ocorrendo. Há ansiedade e medo, a pessoa dorme muito, tem ideias fixas, comportamentos compulsivos e tenta se manter ocupada. A negação é um amortecedor da alma, uma reação natural à dor, à perda e à mudança; ela nos protege da realidade até que possamos usar outros recursos para lidar com a ferida.
Depois da negação, vem a raiva. Ao deixar de negar a dor, entra-se no estágio seguinte: a raiva, que pode ser razoável ou irracional. Culpa-se a si mesmo, a Deus, todos à volta pelo que se perdeu. É como uma pessoa dizer, nessa fase: “Por que eu? Como isso aconteceu comigo?”. Nesse estágio, é importante desabafar.
O terceiro passo ao lidar com uma perda ou um diagnóstico difícil é a negociação, ou barganha, quando, após acalmar-se, a pessoa tenta fazer uma negociação com a vida, com Deus, com outras pessoas ou consigo mesma. A ideia é que, se fizer algo — ou se alguém fizer algo por ela — talvez a perda não precise acontecer.
O próximo estágio é a depressão, que surge ao perceber que a negociação não funcionou. Pode haver exaustão pelos esforços para se defender da realidade e, ao decidir reconhecer o que a vida reservou, a pessoa fica triste e, às vezes, muito deprimida. É o momento de lamentar, a hora de chorar, e isso machuca.
Finalmente, vem a aceitação. Após fechar os olhos, gritar, espernear e negociar, ao fazer promessas a Deus e sentir a dor, chega-se a um estado de aceitação. Elizabeth Kübler-Ross descreveu esse estágio, dizendo que a aceitação não é uma sensação resignada e desesperançosa, como desistir ou pensar “qual é o propósito de tudo isso?”, mas representa o começo do fim da luta. Não é um estágio feliz; é quase uma ausência de emoções, como se a dor tivesse passado e a luta acabado.
Não é confortável atravessar esses estágios; na verdade, é incômodo e, às vezes, muito doloroso. Podemos nos sentir como se estivéssemos nos despedaçando. Não temos que deixar que os estágios ditem nosso comportamento, mas precisamos passar por cada um deles no tempo apropriado. Para uns, cada estágio é mais rápido do que para outros e nem sempre segue exatamente essa ordem. A maneira de sair da dor é atravessando a dor. Deus prometeu na Bíblia:
“Eu estarei com você na angústia” .
Salmos 91:15
Então, Deus não é um ser alheio aos sofrimentos. Ele vem e ajuda você; ao pedir ajuda, Ele oferece suporte emocional. Desabafe com alguém de confiança, abra seu coração e viva esses estágios até chegar à aceitação; assim, você alcançará uma paz interior, apesar do diagnóstico.
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Dr. Cesar Vasconcellos de Souza está trabalhando como psiquiatra e palestrante internacional. É autor de 3 livros, colunista da revista de saúde “Vida e Saúde” há 25 anos, e tem programa regular na TV “Novo Tempo”. Acesse mais conteudos no canal de Youtube.
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