O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, o chamado TDAH, é um transtorno neurobiológico no qual a pessoa que o apresenta tem dificuldade de manter o foco por muito tempo em alguma atividade que requer um esforço mental. Ela tem dificuldade de prestar atenção a estímulos internos e externos, tem prejuízo na capacidade de organizar e completar tarefas, e problemas em controlar comportamentos e impulsos.
Os estudos mostram que cerca de 66% das crianças com esse transtorno são do tipo combinado. O que é o tipo combinado? É quando existe a desatenção, há inquietude e impulsividade. 26% delas são desatentas e 8% são do tipo hiperativo. Vários estudos têm revelado também que o transtorno de atenção e hiperatividade atinge 6% das crianças, e entre 3 a 5% dos adultos. Esse transtorno se manifesta por desatenção, inquietude e impulsividade.
Sintomas do TDAH
Vamos ver agora separadamente alguns sintomas da desatenção, da hiperatividade e impulsividade. O principal que geralmente aparece nas pessoas, são os sintomas de desatenção, que inclui:
- Dificuldade crônica em organizar tarefas e atividades.
- Dificuldade em manter a atenção e completar tarefas.
- Cometer erros por distração, confundir instruções, apesar de apresentar uma inteligência normal ou até superior.
- Perder coisas com frequência.
- Elevada distratibilidade.
- Tendência a evitar atividades que requerem esforço mental constante.
- Esquecimento.
- Tendência a sair de sintonia, a pessoa fica meio que voando, meio que nas nuvens, fica meio em devaneio, seja numa aula, numa palestra, numa reunião ou até mesmo numa conversa.
Principais sintomas da hiperatividade na pessoa que tem o TDAH:
- Inquietação, uma movimentação constante, sem propósito, como balançar as pernas o tempo todo, bater os pés no chão, ficar tamborilando os dedos na mesa.
- Dificuldade de ficar parada, como se diz popularmente: “tem bicho carpinteiro”.
- Dificuldade de fazer uma coisa de cada vez. Está constantemente a mil por hora.
- Dificuldade em esperar e muita impaciência; e tem um temperamento esquentado.
Com relação à atitude de impulsividade como o nome já está dizendo, a pessoa que é impulsiva, se manifesta da seguinte forma:
- Se intromete em conversas ou brincadeiras dos outros.
- Tem tendência a responder antes da pergunta ter sido completada.
- Faz coisas precipitadamente sem pensar.
- Não espera sua vez; vai atropelando todo mundo.
Algumas pessoas com TDAH apresentam problemas do sono, com dificuldade para acordar pela manhã. Têm muita sonolência durante o dia quando precisam estar atentas em algumas atividades. A dificuldade para iniciar o sono à noite acontece mais ou menos em 30% dos casos. Os meninos apresentam mais a hiperatividade e impulsividade, enquanto que as meninas têm mais a desatenção. Também é importante entender que nem toda criança com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade é hiperativa, e que a hiperatividade tem muito a ver com o funcionamento cerebral acelerado, no qual os estímulos variados tiram o foco da pessoa de uma tarefa ou num raciocínio.
Alguns estudos sugeriram que 40% das crianças com TDAH podem se tornar adolescentes ou adultos com personalidade antissocial. Podem se envolver até em abuso de substâncias ou criminalidade durante a adolescência ou a idade adulta. Mais de um quarto das crianças com esse transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, ou seja 25 em cada 100, repetem o ano escolar, e um terço delas, mais ou menos 30 em cada 100, não conseguem terminar o segundo grau. Os conflitos familiares em torno de uma criança assim produzem realmente um baixo auto respeito nessa criança. Ela se sente inadequada socialmente e tem uma história de fracassos frequentes, com o desempenho escolar fraco, sendo uma criança muito sensível a críticas, e geralmente são rotuladas como desmotivados ou preguiçosas ou desinteressados. São chamadas de incompetentes, de irresponsáveis, o que é uma maldade.
Causas do TDAH
Você pode pensar: quais são as causas desse transtorno? O que leva uma pessoa, uma criança e um adulto jovem até o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade? Ainda não há conclusões específicas sobre as causas desse transtorno. O que se sabe é que o fator genético é um forte preditor de um filho vir a desenvolver esse transtorno. Alguns estudos mostraram que quando o pai ou a mãe tinham esse transtorno, seus filhos tinham de 2 a 10 vezes mais chance de ter essa desordem, comparado com a população em geral. E ao se comparar crianças de pais biológicos com crianças de pais adotivos, verificou-se que os pais biológicos tiveram três vezes mais filhos com TDAH do que os pais adotivos. Então, isso revela que a força da hereditariedade é importante para a propensão dessa desordem neuropsicológica.
Especialmente na região frontal do cérebro, que é o centro das funções executivas do cérebro, raciocínio e pensamento, foram mostradas alterações em certos neurotransmissores como a dopamina e a noradrenalina. Estudos também revelaram que mães que fumaram ou ingerirem bebidas alcoólicas ou outras drogas durante a gestação, podem ter colaborado através dessas práticas para que seu filho tivesse nascido com mais chance de ter o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade.
Na presença de problemas na família, as pessoas se perguntam sobre isso: será que é trauma de infância? Esses problemas psicológicos em uma família disfuncional e complicada, durante os anos da infância da criança parece agravar, mas não causar o TDAH. Então, sabe-se que um funcionamento familiar problemático é associado com frequência ao desenvolvimento de alguns tipos de transtornos, como por exemplo o transtorno desafiador opositivo, além de outros sofrimentos mentais que podem aparecer já na infância ou na idade adulta dessa criança. Mas em relação ao TDAH, uma família muito complicada em termos de relacionamento, não parece ser a causa desse transtorno, mas vai ser um fator complicador.
Houve uma época em que se pensou muito que certos alimentos poderiam causar o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. A ideia seria então de eliminar os aditivos dessa dieta. Depois a ciência foi verificando e não se confirmou muito bem isso. Depois se pensou que o excesso de açúcar ingerido poderia contribuir, mas também não houve conclusões definitivas da relação entre consumo de açúcar e TDAH, embora seja uma coisa sábia eliminar açúcar da dieta, especialmente o açúcar refinado.
Foi demonstrado que a intoxicação por chumbo poderia causar distratibilidade, hiperatividade e baixo desempenho intelectual, mas a maioria dos portadores do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade não apresentaram uma intoxicação por chumbo, e as crianças expostas ao chumbo não desenvolveram o TDAH. Também se estudou o papel das complicações na gestação e do parto como a toxemia, eclampsia, a saúde materna precária, a mãe que tem um filho com a idade muito avançada, a duração do trabalho de parto, o stress fetal, o baixo peso ao nascer e hemorragia, mai os resultados foram um tanto conflitantes. Parece que há realmente no TDAH um componente biológico inegável, devido às respostas às diversas medicações, especialmente estimulantes.
Diagnóstico
Como saber se a pessoa tem um transtorno de déficit de atenção e hiperatividade? É importante que a criança com sinais de transtorno seja levada para uma avaliação profissional, com uma equipe incluindo o neurologista pediátrico, psicólogo clínico, psiquiatra infantil, além da observação do psicopedagogo na escola, que vai orientar os pais quanto ao que fazer. O diagnóstico deve ser feito pelo profissional que utiliza os critérios da classificação do código internacional das doenças que é o CID ou do DSM 5.
Efeitos Cerebrais
A revista científica da Associação Médica Americana o JAMA, na área de psiquiatria, publicou em 2017 um artigo que é o maior estudo feito no mundo até agora sobre TDAH, mostrando que há alterações cerebrais, que esta doença afeta o desenvolvimento de regiões cerebrais importantes em áreas responsáveis por motivação, sentimentos e sistemas de recompensa.1)Hoogman M et.al. Subcortical brain volume differences in participants with attention deficit hyperactivity disorder in children and adults: a cross-sectional mega-analysis. Lancet Psychiatry. 2017 … Continue reading
O Dr. Paulo Mattos, professor de psiquiatria da UFRJ, Universidade Federal do Rio de Janeiro, diz o seguinte:
“Esses achados são importantes para médicos e pais pois demonstram claramente que o TDAH não é uma doença inventada, não é meramente um rótulo para crianças difíceis e não se deve a falhas na educação pelos pais”.2)Maior estudo já realizado no mundo revela novas alterações cerebrais no Transtorno do Déficit de Atenção, ABDA, 25 de Agosto, 2017
Nesse estudo, mais de três mil pessoas com TDAH e indivíduos saudáveis entre quatro e 63 anos de idade foram submetidos a exames de neuroimagem estrutural através da ressonância magnética cerebral. Cada área cerebral foi avaliada através de um protocolo padronizado, conseguindo-se informações específicas, como o tamanho e o volume de cada região. Assim os cientistas conseguiram comparar cada uma das estruturas cerebrais das pessoas que apresentavam, e das que não apresentavam o transtorno.
Os resultados mostraram que estruturas cerebrais como de amígdala cerebral ou a cubens e o hipocampo, responsáveis pela regulação das emoções e da motivação, e também o chamado sistema de recompensa (nosso cérebro modifica o comportamento através de recompensas), são menores nos pacientes com o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Então quando se levou em conta a idade dos pacientes, observou se que essas alterações são mais leves em pacientes adultos, o que sugere que existe uma compensação pelo menos parcial com o passar dos anos. Esses resultados oferecem uma base de que esse transtorno do déficit de atenção e hiperatividade é relacionado ao atraso na maturação de regiões cerebrais reguladoras das emoções. Porque essas estruturas estão menos desenvolvidas principalmente nas crianças. Dr. Paulo Matos também adverte o seguinte:
“É preciso deixar claro que o TDAH é um transtorno do desenvolvimento associado a alterações no nosso cérebro, e que precisa perder o estigma e ser tratado de modo apropriado”.3)Maior estudo já realizado no mundo revela novas alterações cerebrais no Transtorno do Déficit de Atenção, ABDA, 25 de Agosto, 2017
Tratamento do TDAH
Quais são as diretrizes gerais em relação ao tratamento desse transtorno? Existem locais públicos para tratamento, serviços ou departamentos de psiquiatria dos hospitais universitários, como departamento de psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, o departamento de psiquiatria da Santa Casa do Rio de Janeiro, e que faz atendimentos gratuitos. O tratamento desse transtorno deve ser feito através de uma equipe de profissionais em combinação de medicamentos e orientações aos pais e professores, e também o uso de técnicas específicas que são ensinadas para quem apresenta a doença.
A psicoterapia que é indicada para o tratamento de TDAH, tem o nome de terapia cognitivo-comportamental – TCC, e é praticada por psicólogos clínicos, treinados para exercer esse tipo de abordagem em psicoterapia. Até agora não se encontrou cientificamente evidência de que outras formas de psicoterapia tenham trazido bons resultados no tratamento dos sintomas desse transtorno.
A ação de um fonoaudiólogo também vai ser necessário. É importante principalmente nos casos em que a pessoa, além do TDAH, apresenta a dislexia, um transtorno de leitura, ou também quando apresenta a chamada disortographia, que é o transtorno ou alteração da expressão escrita. Ajudaria muito na escola ter professores que conheçam técnicas que ajudem seus alunos com esse transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, para eles conseguirem ter um melhor desempenho, além do seu aprendizado escolar.
Algumas dicas para os pais de filhos com transtorno de atenção e hiperatividade:
- Reforce o que há de melhor nessa criança. Enfatize isso.
- Não estabeleça comparação entre os filhos, poia cada criança tem um comportamento diferente numa mesma situação.
- Procure conversar sempre com a criança sobre como ela está se sentindo. Assim você vai dar uma atenção para a emoção daquela criança; vai respeitar a emoção dela.
- Aprenda a controlar a sua própria impaciência. Se você é um pai ou uma mãe impulsivos, vocês precisam aprender a lidar com isso de uma forma construtiva, para que sejam um bom exemplo para essa criança.
- Estabeleça regras e limites dentro de casa, mas que você também deverá obedecer evidentemente como pai, como mãe ou como cuidador essa criança.
- É importante não esperar perfeição delas. As crianças não vão conseguir, e ninguém consegue ser perfeito.
- Não cobre resultados. Fale sobre o empenho dela, valorize isso. Elogie sempre pelo que ela tentou fazer, e não critique o que ela não conseguiu fazer, mas quando você viu que a criança hiperativa até fez um esforço para conseguir, aí você fala: poxa que legal! fiquei contente, mamãe está contente com você, papai está muito contente com você, porque eu vi que você se esforçou para realizar essa tarefa. O estímulo nunca é demais. A criança precisa ver que seus esforços em vencer a desatenção, em controlar a ansiedade e manter esse motorzinho de 220 Volts em baixas rotações, estão sendo reconhecidos.
- Mantenha limites claros e consistentes, relembrando sempre para elas quais são esses limites. Seja consistente em manter sempre a mesma postura em relação a determinada situação, ao invés de mostrar que um dia pode e outro dia não pode, uma hora pode e outra hora não pode. Seja consistente.
- Use um linguajar claro e direto, de preferência falando de frente para a criança e olhando nos olhos dela. Isso é muito importante para a criança que já tem tendência para desatenção. Se a criança estiver voando enquanto você fala, ela não vai captar nada.
- Não exija mais do que a criança pode dar. Considere claramente a idade dessa criança.
No dia a dia, o que você vai fazer como pai e mãe com uma criança hiperativa, desatenta ou impulsiva?
- Você precisa dar instruções diretas e claras, uma de cada vez, de forma que a criança possa corresponder.
- Ensine a criança a não interromper suas atividades. Assim você vai a ajudará a tentar finalizar tudo aquilo que ela começou dando incentivos: vamos agora terminar esse dever. Agora vão faça esse aqui.
- É muito importante você estabelecer uma rotina diária que seja clara e também consistente. Existe a hora do almoço, a hora do jantar, existe a hora do dever de casa, existe hora de tomar banho. Mantenha essa rotina, pois isso ajuda a estruturar a cabeça da criança.
- Mantenha o ambiente doméstico o mais harmônico e organizado possível, ao invés de um ambiente bagunçado. O quarto não pode ser um local cheio de estímulos diferentes, com um monte de brinquedos, um monte de pôster. Bota uma coisa mais simples, com menos estímulos.
- Você deve advertir construtivamente o comportamento inadequado, esclarecendo para ela o que seria mais apropriado e mais esperado dela naquele momento, naquela atividade.
- Use um sistema de reforço imediato para todo bom comportamento da criança, tipo: “legal você conseguir fazer essa tarefa; a mamãe está muito contente. Hoje a gente vai dar um passeio no parque. Pronto.
- Incentive a criança a exercer uma atividade física regular. É muito importante ter atividade física como caminhar, correr, andar de bicicleta, nadar, isso ajuda o cérebro.
- Estimule também a independência e a autonomia da criança, dependendo claro, da idade dela.
- Estimule a criança a fazer e manter suas amizades. Ensine a ela um meio de lidar com conflitos no dia a dia da vida.
Espero que esse artigo tenha ajudado você a aumentar seu conhecimento sobre esse transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, e que Deus dê a você pai e mãe!
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Dr. Cesar Vasconcellos de Souza está trabalhando como psiquiatra e palestrante internacional. É autor de 3 livros, colunista da revista de saúde “Vida e Saúde” há 25 anos, e tem programa regular na TV “Novo Tempo”. Acesse mais conteudos no canal de Youtube.
Referências
↑1 | Hoogman M et.al. Subcortical brain volume differences in participants with attention deficit hyperactivity disorder in children and adults: a cross-sectional mega-analysis. Lancet Psychiatry. 2017 Apr;4(4):310-319. doi: 10.1016/S2215-0366(17)30049-4. |
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↑2, ↑3 | Maior estudo já realizado no mundo revela novas alterações cerebrais no Transtorno do Déficit de Atenção, ABDA, 25 de Agosto, 2017 |
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