A cafeína é uma droga que é altamente usada em formas variadas no mundo todo. Um artigo de Jennifer Temple, do Departamento de Ciências do Exercício e Nutrição da Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos, mostra os resultados de estudos sobre os efeitos da cafeína em crianças.1)Temple JL. Caffeine use in children: what we know, what we have left to learn, and why we should worry. Neurosci Biobehav Rev. 2009;33(6):793-806. doi:10.1016/j.neubiorev.2009.01.001
Vejamos a abordagem da Dra. Jennifer Temple e outros cientistas sobre o consumo de cafeína. A cafeína é uma substância que atua em nosso cérebro, é legalmente permitida e fácil de ser obtida, além de ser socialmente aceitável o seu consumo. O seu uso já foi relativamente restrito aos adultos, mas hoje em dia bebidas com cafeína são também consumidas regularmente por crianças. Além disso, algumas bebidas que contêm cafeína são comercializadas especificamente para crianças a partir dos 4 anos de idade.
A cafeína é classificada como uma droga estimulante, normalmente usada por sua capacidade de ativar o sistema nervoso central. Embora geralmente reconhecido como seguro pela Agência Americana de Alimentos e Drogas, o FDA, similar Anvisa do Brasil, usar cafeína em excesso pode resultar em sérios riscos à saúde, e em raros casos pode levar à morte.
O uso de cafeína em crianças é pouco estudado ainda. As crianças e adolescentes são a população de usuários de cafeína que mais cresce, com um aumento de 70% nos últimos 30 anos. Junto disso está o desenvolvimento de novas bebidas que contêm cafeína, chamadas bebidas energéticas, que contém níveis de cafeína que variam de 50 mg, equivalente a uma lata de refrigerante, a 500mg, que equivale a cinco xícaras de café, e muitas vezes com níveis muito altos de açúcar.
As vendas de bebidas energéticas cresceram mais de 50% desde 2005, e são o segmento de crescimento mais rápido da indústria de bebida, infelizmente. As bebidas energéticas são comercializadas especificamente para jovens adultos e crianças, com anúncios de atividades de alto risco, esportes radicais como escalada, parapente, com slogans cativantes. Fazer isso é uma grande maldade industrial e comercial!
A cafeína é encontrada no café, no chá preto, no chocolate, no chá mate e chá verde. É produzida naturalmente nos grãos e nas folhas das plantas utilizadas na fabricação desses produtos. A cafeína também é usada como aditivo em outros produtos como refrigerantes, bebidas energéticas, analgésicos e remédio para dor. Os níveis de cafeína podem variar muito nesses produtos, dependendo da concentração, do preparo, como no caso do chá e do café, ou da quantidade adicionada, como no caso dos refrigerantes e energéticos.
Embora possa parecer inofensivo, há duas coisas que devem ser consideradas, segunda cientista, Dra. Jennifer Temple, sobre o consumo de cafeína por crianças e adolescentes. Primeiro, existe uma ampla gama de uso de cafeína entre adolescentes, de modo que alguns consomem consideravelmente mais do que a média. Essa população pode estar em risco particularmente alto de desenvolver outros tipos de comportamento de alto risco.
Em segundo lugar, devido a escassez de pesquisas sobre o uso de cafeína em adolescentes, não sabemos qual o nível mínimo “seguro” de uso de cafeína nessa população. O consumo de bebidas com cafeína em geral e o consumo de refrigerantes em particular, é motivo de preocupação por causa de seus efeitos potencialmente negativos à saúde, bem como por sua relação estabelecida com a perturbação do sono, obesidade e cárie dentária. Além dos produtos tradicionais que contêm cafeína, como café o chá e o refrigerante, as pessoas agora podem obter a sua dose de cafeína de uma variedade de fontes não tradicionais. Parece que os produtos consumíveis com cafeína estão sendo comercializados para populações mais jovens.
Além dos seus efeitos bem conhecidos no sono e na agitação, a cafeína exerce alguns efeitos comportamentais. O seu uso produz tolerância e dependência, ou seja, tolerância significa a necessidade de usar doses maiores para obter os mesmos efeitos estimulantes, e dependência é o vício.
A cafeína aguda tem efeitos dose-dependente sobre o humor, sobre a atenção e sobre a fisiologia. Por exemplo, doses moderadas de cafeína que vão de 200 e 300mg, frequentemente produzem sensações aumentadas de bem-estar, melhora de concentração, aumento da excitação e da energia, mas doses altas acima de 400 mg levam a sentimento de ansiedade, náusea, agitação, dor de cabeça, fadiga e nervosismo. Em seres humanos a administração aguda de dose moderada de cafeína de 200 a 300 mg, diminui a frequência cardíaca e aumenta a pressão arterial. Em e crianças e adolescentes o consumo de cafeína pode ser impulsionado pela pressão dos colegas ou pelo aumento do desempenho esportivo.
Níveis altos irregulares de consumo de cafeína, ou seja, acima de 400 e 450 mg por dia, aumentam o risco de doenças cardiovasculares. Altos níveis de uso de cafeína também estão associados a excreção de cálcio e perda óssea, o que pode contribuir para a osteoporose.
Embora os dados possam diferir entre os estudos, a maioria concorda que altos níveis de consumo de cafeína em mulheres que estão tentando engravidar podem estar associados a baixas taxas de concepção, e taxas mais altas de aborto espontâneo. Tal como acontece com outros artigos revisados, o consenso é que alguns altos níveis de consumo de cafeína podem ter efeitos ruins adversos sobre a fertilidade, e a recomendação para as mulheres que estão tentando engravidar, é que limite a cafeína a menos de 300 miligramas por dia, e melhor ainda seria não usá-la.
Em crianças, o principal veículo para cafeína é o refrigerante, que também contém uma grande quantidade de açúcar. Isso facilita o desenvolvimento da dependência da cafeína, e talvez também contribua para aumentar a preferência por alimentos e bebidas contendo açúcar adicionado. O açúcar ativa vias de recompensa semelhante às drogas de abuso como a cocaína, anfetamina e a nicotina.
A infância e adolescência são períodos de rápido crescimento e o estágio final do desenvolvimento do cérebro. A fim de maximizar o crescimento e o desenvolvimento, o sono e a nutrição adequados são essenciais. O uso de cafeína interrompe os padrões de sono, e o consumo excessivo de refrigerante está associado a uma dieta pobre, excesso de peso e cárie dentária. Se a cafeína aumenta as preferências por alimentos e bebidas doce, isso pode contribuir para o excesso da ingestão de energia e aumentar o risco de sobrepeso e obesidade na idade adulta. Crianças e adolescentes podem ser particularmente vulneráveis a cafeína, pois seus cérebros ainda estão em um desenvolvimento significativo, em áreas específicas do cérebro envolvidas na função executiva, controle da impulsividade e planejamento.
O consumo de bebidas energéticas pode levar a várias consequências negativas, principalmente em crianças e adolescentes, por causa do seu alto teor de cafeína, conforme explica a Dra. Jennifer. Em primeiro lugar, diz ela, as crianças e adolescentes podem ser mais suscetíveis a intoxicação por cafeína, que resulta numa série de efeitos fisiológicos e psicológicos, e pode em alguns casos levar à morte.
Em segundo lugar, além dos efeitos maléficos das bebidas energéticas, elas são frequentemente combinadas com álcool, como uma forma de aumentar os sintomas de euforia. Isso pode levar ao aumento da ingestão de álcool e consequentemente ao aumento de sintomas danosos relacionados ao álcool.
Em terceiro lugar, o consumo excessivo de bebidas energéticas tem sido associado ao envolvimento em vários comportamentos de alto risco, incluindo fumar, beber, uso de drogas ilícitas, comportamento sexual de risco e brigas.
E para terminar quero deixar um texto de uma escritora Americana que já nos deixou esse conselho há mais de 100 anos atras:
“O chá e o café não nutrem o organismo. O alívio deles obtido é súbito, antes de o estômago ter tempo de os digerir. Isso indica que os estimulantes considerados pelos adeptos como energia, são recebidos unicamente mediante estímulo dos nervos estomacais, que transmitem a irritação ao cérebro, o qual é por sua vez despertado para comunicar acrescida atividade ao coração e passageira energia a todo o organismo. Tudo isso é falso vigor, que nos deixa pior. Eles não comunicam uma partícula de energia natural”.2)Ellen White. Temperança, p. 75. Casa Publicadora Brasileira
Então, a melhor decisão a ser tomada é evitar a cafeína em todas as formas de uso. Isso preservará a sua saúde e seu cérebro também. Vale a pena cortar a cafeína da sua vida!
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Dr. Cesar Vasconcellos de Souza está trabalhando como psiquiatra e palestrante internacional. É autor de 3 livros, colunista da revista de saúde “Vida e Saúde” há 25 anos, e tem programa regular na TV “Novo Tempo”. Acesse mais conteudos no canal de Youtube.
Referências
↑1 | Temple JL. Caffeine use in children: what we know, what we have left to learn, and why we should worry. Neurosci Biobehav Rev. 2009;33(6):793-806. doi:10.1016/j.neubiorev.2009.01.001 |
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↑2 | Ellen White. Temperança, p. 75. Casa Publicadora Brasileira |
VÁGNER SILVA DE SOUZA diz
Que excelente notícia! Não é que não sabemos, por vezes ignoramos.
Eu atendo algumas crianças e mães que queixam de insônia constantemente, isso tem afetado significativamente no humor, estresse, ansiedade e no desenvolvimento profissional, e eles fazem uso diário de cafeína.
Cleunice diz
Por isso q a humanidade quase toda se torna debilóide tomando café e outros. Desde criança.. Não deixe essas bebidas tomarem conta de sua família PF.