Você sofre do transtorno bipolar? Tem algum familiar com esse problema bipolar? Precisamos saber como lidar com isso. Vamos rever alguns conceitos sobre o transtorno afetivo bipolar.
Cerca de 1% da população em geral sofre de transtorno bipolar. Ele ocorre mais frequentemente entre parentes de primeiro grau, quando um deles teve ou tem esse sofrimento. Em geral a doença bipolar começa entre 18 e 20 anos de idade, atingindo homens e mulheres igualmente. Doença bipolar é como o nome diz: bi-polar, ou seja, tem dois polos. Num momento a pessoa tem euforia, e em outro momento, depressão. Euforia está em um polo e depressão está no polo oposto. Um indivíduo bipolar pode ficar alguns meses eufórico, agitado se não tratado, e depois entrar numa situação depressiva, tendo ou não o intervalo de normalidade entre uma fase e outra.
Existe o bipolar tipo 1 e o tipo 2. A principal diferença entre um tipo e outro tem a ver com a gravidade dos episódios ou das crises. O bipolar tipo 1 têm a fase eufórica mais grave, enquanto o tipo 2 tem uma euforia mais branda. Quando a pessoa está no polo de euforia do transtorno bipolar tipo 1, em geral apresenta complicações no trabalho, na escola e nos relacionamentos. Em alguns casos pode ser necessária a internação. O bipolar tipo 1 têm períodos de depressão profunda e de longa duração, que se alternam com períodos de humor muito exaltado, irritável, que chamamos de mania ou euforia. Os principais sintomas do bipolar na fase eufórica são: irritabilidade, exaltação do humor, euforia, diminuição da necessidade de sono, falar demais ou atropeladamente, grande distração, fuga de ideias, ou seja, a pessoa fica falando de muitos planos exagerados e troca de ideias constantemente. Existe também a procura de atividade prazerosa e de uma forma compulsiva, como gastar dinheiro mais do que possui. O bipolar na fase eufórica também tem uma grandiosidade, ou seja, tem uma postura exaltada, como se fosse um rei ou um deus que pode tudo.
Para ser diagnosticado como bipolar na fase maníaca ou eufórica, essa exaltação do humor não deve ser resultado do uso de substâncias, ou de alguma doença clínica.
Já na fase depressiva a pessoa com doença bipolar apresenta cinco ou mais dos sintomas, sendo que um deles tem a ver com o humor deprimido ou perda do prazer, ou interesse por aquela pessoa que gostava, em que se envolvia. Então os sintomas são na fase depressiva: dormir demais, ou ter insônia, perda de energia, perda ou ganho de peso pela alteração do apetite, ter sentimento de desvalor, culpa excessiva, diminuição da capacidade de concentração, acentuada indecisão e preocupação com a morte, com o suicídio. Nos episódios depressivos graves, o paciente pensa em suicídio, ou já tentou o suicídio.
A fase eufórica ou bipolar ultrapassa os limites de convívio social e perturba os relacionamentos, e a agitação pode se transformar em agressão física. Por isso é importante a consulta com psiquiatra para prescrição de medicação que controle isso. Frequentemente os familiares e pessoas da equipe médica são os alvos dessa agressão. O tratamento da doença bipolar deve ser feito com psiquiatra ou psicólogo, com a família sendo orientada sobre o que fazer para ajudar. Nas crises eufóricas não adianta conversar, e nem levar ao psicólogo, ou ao psicoterapeuta. A medicação é o tratamento prioritário para tentar tirar a pessoa dos sintomas de agitação, que impedem um diálogo produtivo. Já na fase depressiva, além da medicação, a psicoterapia ajuda a melhorar.
Não existe uma única teoria sobre as causas da doença bipolar. Algumas afirmam que a área consciente e a área inconsciente podem entrar em conflito, causando alterações do comportamento. A falha em resolver esses conflitos seria a causa de várias doenças mentais na verdade. No caso da depressão, existem teorias que dizem que a pessoa desenvolve sintomas depressivos como sendo uma manifestação de raiva contra si mesmo.
Uma dessas teorias explica que pais com comportamento doentio, que são inconsistentes, ou seja, ora alegres, ora irritados e nervosos com seus filhos, sem boa manifestação de afeto para com eles, que são impulsionados por suas necessidades egoístas, criam um ambiente imprevisível e hostil para criança ao longo da infância. Como resultado, a criança se sente sozinha, confusa e impotente, e finalmente com raiva. Mas a criança sabe que os pais são seu único meio de sobrevivência. Então por medo, amor e culpa, a criança reprime a raiva em relação aos pais, que agem de forma ruim com ela, isso vira a raiva contra si mesma e surge em sua mente o pensamento de ser desprezada, e ela passa então a acreditar que é uma pessoa não amável e ruim. E ao mesmo tempo a criança se esforça para apresentar um comportamento perfeito, aceitável aos pais, como uma forma de compensar as fraquezas que ela percebe, e que se torna inaceitável aos pais exigentes e neuróticos. Assim a criança se sente presa entre a criança que ela acha inaceitável e a que precisa agir perfeitamente para obter o amor dos pais. Como resultado desse conflito, a criança se torna “neurótica”, ou propensa a experimentar sentimentos exagerados de ansiedade e de depressão. Se desenvolve na mente da criança uma sensação constante de que ela não é boa o suficiente, não importa o quanto tente acertar. Essa necessidade neurótica de agradar, acompanhada da falha em fazer isso, pode se espalhar na vida da criança, de modo que ela pode começar a sentir uma necessidade doentia de ser amada por todos, pelos colegas, pela família, pelos colegas de trabalho e outras pessoas.
Então, o objetivo do tratamento psicológico, que é a psicoterapia na abordagem psicodinâmica, pode ajudar a criança agora já adulta, e que sofre de depressão ou sintoma, a obter informações sobre fundamentos equivocados de sua crença em sua própria maldade e inadequação, para que a necessidade de se punir e de ser perfeito diminua. É interessante que, por exemplo, o marido que teve uma infância na qual os pais eram críticos demais para com ele, que o depreciavam, não manifestavam elogios e carinho, esse menino cresce, se torna adulto, e casa com uma mulher que repete o papel dos pais dele, o depreciando, não valorizando nada nele. A esposa com uma postura egoísta, sugadora de atenção, favorece o surgimento de depressão no marido.
Na vida adulta, a pessoa que teve uma infância dolorosa do ponto de vista emocional, tendo sofrido devido os comportamentos ruins dos pais, vai ter dificuldades em seus relacionamentos com outras pessoas, sem ser o próprio cônjuge. Por exemplo, ela pode ter no trabalho um colega ou chefe que repete o papel depreciador dos pais, favorecendo a tristeza no indivíduo sensível. Então imagine por um momento como é doloroso para o indivíduo que teve uma infância vivida com pais que não sabiam valorizá-lo, e que na vida adulta vive com um conjunto que o desvaloriza, critica mais do que elogia, e ainda por cima disso ainda vive num ambiente de trabalho com uma situação semelhante, de ser desvalorizado. Difícil, não é? Então podemos dizer que na depressão, seja na doença bipolar ou não, existe uma luta contínua que as pessoas deprimidas enfrentam para tentar manter o contato emocional com as pessoas importantes em sua vida.
Alguns deprimidos sofrem, porque se sentem dependentes de relacionamentos com os outros, e se entristecem com a perda ameaçada ou real desse relacionamento. Já que na infância não se formou um bom vínculo afetivo entre seus pais e eles, surgiram os sentimentos de desamparo e fraqueza. Essas pessoas experimentam medos intensos de abandono, e lutam muito para manter o contato físico direto com o objeto gratificante da necessidade.
Então, se você tem um familiar bipolar que está na fase eufórica, precisa de medicação para controlar essa atitude difícil. Se você está na fase depressiva, a psicoterapia é muito importante junto com algum medicamento, dependendo do grau dessa depressão.
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Dr. Cesar Vasconcellos de Souza está trabalhando como psiquiatra e palestrante internacional. É autor de 3 livros, colunista da revista de saúde “Vida e Saúde” há 25 anos, e tem programa regular na TV “Novo Tempo”. Acesse mais conteudos no canal de Youtube.
Francisca Solange da Silva diz
Gosto de receber estas informações porque, posso procurar entender mais as pessoas ao meu redor e também prestar atenção no meu próprio comportamento.
Fabiana diz
Tenho uma irmã com esse transtorno de bipolaridade, é muito difícil lidar com ela.
Martin Neumann diz
Sim as pessoas parecem muitas vezes imprevisíveis, porque dependendo da fase que estão, reagem completamente diferente. Mas sabendo como lidar com isso na forma adequada e entender que se trata de uma doença mental que precisa de um tratamento adequada e diferente em cada fase, ajuda para contornar muitas problemas.