Nós vamos analisar um pouco os aspectos psicológicos dessa doença, chamada fibromialgia. Fibro vem de fibra, mio significa músculo, e algia é dor. Portanto, fibromialgia é dor nas fibras musculares, numa tradução literal, mas existe vários outros sintomas nessa doença complexa, atingindo milhares de pessoas no Brasil e cerca de 2% de pessoas nos Estados Unidos.
A fibromialgia se caracteriza por dores no corpo todo, pelo menos por três meses, fadiga, alterações do sono – podendo ser insônia ou um sono não reparador – formigamento nas mãos, nos pés e no meio das costas, intestino ora preso ora com diarreia, e alterações do humor com desânimo. Cerca de 25% dos doentes de fibromialgia têm depressão; ou seja, uma em cada quatro pessoas.
Também surge ansiedade, dificuldade de se concentrar e executar tarefas comuns, dor de cabeça, e inchaço no corpo. Na fibromialgia existem alguns pontos dolorosos no corpo, no músculo trapézio que é nos ombros, nos dois lados do pescoço, nas nádegas, na região das articulações dos braços e das pernas, e em outros locais.
Não se sabe ainda a causa da fibromialgia. Acredita-se que seja por causa da diminuição de um neurotransmissor chamado serotonina no cérebro, quando a pessoa perde a capacidade de regular a dor, e os impulsos são interpretados erroneamente. É uma síndrome dolorosa, sem inflamação. Atinge vinte mulheres para um homem.
Aparece em qualquer idade, mas comumente entre quarenta e sessenta anos de idade. É comum mulheres com fibromialgia serem perfeccionistas, detalhistas, que assumem coisas demais em casa e no trabalho. Histórias clínicas revelam que antes de adoecerem, elas eram as melhores do trabalho, eram supermães, supermulheres em casa. Com a doença, se sentem limitadas e deixam de ser as melhores, caindo a sua autoestima.
Quanto mais se sentem inferiorizados, mais sintomas surgem. Os próprios pacientes se admiram da doença, porque estavam muito bem, se sentiam superpoderosos, faziam tudo, resolviam tudo para todos. Colegas e familiares também se admiram, dizem que essas pessoas estão inventando a doença e que não tem nada. É comum pessoas com fibromialgia passarem de médico em médico. Alguns desinformados podem achar que isso seja só psicológico, que a pessoa não tem nada.
O especialista principal a ser procurado com os sintomas da fibromialgia, é o reumatologista. Não se pode dizer que a fibromialgia tem cura, mas tem um controle. Não há exames que identifiquem a doença, o diagnóstico é clínico. O especialista pedirá exames para fazer um diagnóstico diferencial, ou seja, excluindo outras possíveis doenças, especialmente da tireoide, que pode ter alguns sintomas que misturariam com os sintomas da fibromialgia.
O indivíduo com fibromialgia pode melhorar 20% quando o médico bem informado lhe diz que ele não é louco e que existe uma doença assim. Pode melhorar outros 20% quando fica sabendo que a doença, ainda que dolorosa, não mata, e os outros 60%, a medicina tem muitas limitações para produzir cura.
Será necessário iniciar um programa constante de exercícios aeróbicos, como caminhada diária, uso de alimentos mais naturais, água pura, compreensão da família, procura de um relax que diminua a tensão e melhore o sono, diminuindo também a interpretação trágica dos eventos e aprendendo a estratégia de lidar com problemas sem se sobrecarregar. Pode ser útil alguma medicação temporária para melhorar o humor, para ajudar no sono, e também um analgésico. É importante que a pessoa sofrendo de fibromialgia lute para mudar o próprio comportamento e desacelerar o ritmo que conseguia anteriormente.
Dentre os que sofrem com essa doença, alguns são perfeccionistas, muito exigentes, assumem fardos que não são deles, e nesse caso você precisa aprender a colocar limites, não assumindo o que não é de responsabilidade sua, mesmo que os outros se queixem que você deixou de fazer o que fazia antes, e aprender a se desligar dos problemas que querem jogar para você assumir, o que não significa que você se tornou uma pessoa irresponsável.
Não é raro em famílias em que alguém tem fibromialgia haver a tendência de alguns membros dessa família se omitirem, jogando cargas sobre uma pessoa só, e esta pessoa ao aceitar essas cargas assume os problemas de todos, buscando soluções sozinha, ou seja, assume fardos que não são dela.
Mas se essa pessoa tem tendência em assumir tudo, os demais membros da família ou colegas de trabalho se acomodam e deixam os fardos sobre ela, fazendo com que ela fique sobrecarregada. Então, essa sobrecarga de problemas alheios se torna tão sufocante e tão pesado, que chega um momento em que o corpo e a mente dizem: Não aguentamos mais!
Daí é que surgem sintomas que podem ser, por exemplo, os da fibromialgia. É possível ser uma pessoa responsável, produtiva, ajudadora, sem assumir o que não é sua responsabilidade, e não absorver críticas injustas dos que querem jogar sobre ela aquilo que deveria assumir. A fibromialgia também atinge crianças e adolescentes e ocorre principalmente em meninas entre nove e quinze anos de idade.
Os sintomas são semelhantes aos dos adultos, acrescentado de prejuízo nos estudos por faltar aulas devido à doença. Alguns estudos científicos mostraram que crianças e jovens com fibromialgia chegavam a ter falta na escola em torno de 41 dias por ano, enquanto que na população em geral a média é de 9 dias por ano.
Do ponto de vista psicológico, as pessoas com fibromialgia têm pior qualidade de vida, com mais sintomas de depressão e ansiedade, gerando maior quantidade de comportamentos sofridos. Alguns estudos mostraram que jovens com fibromialgia parecem vir de famílias cujos membros são mais desorganizados e ansiosos, fazendo com que isso influencie a forma de enfrentar os problemas da vida.
O tratamento da fibromialgia envolve medicamentos apenas para o controle dos sintomas, como a dor, a insônia, ansiedade excessiva e o estado depressivo. É necessário fisioterapia, prática de exercícios físicos, de preferência ao ar livre, e também psicoterapia. Ajuda muito aprender estratégias de enfrentamento dos problemas cotidianos para ajudar na redução do stress. Se isso for na causa da sua doença, será também a melhor forma de cura.
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Dr. Cesar Vasconcellos de Souza está trabalhando como psiquiatra e palestrante internacional. É autor de 3 livros, colunista da revista de saúde “Vida e Saúde” há 25 anos, e tem programa regular na TV “Novo Tempo”. Acesse mais conteudos no canal de Youtube.
Maria Aparecida Soares karru diz
Grande verdade encontrei nessa leitura. Eu vivo isso!
Claudia Venerando diz
Encontrei muito de mim e histórico familiar nesta reportagem; não tenho essa doença ainda, mas se não houverem mudanças profundas em minha vida eu sei que posso ser acometida por ela.