A angústia é uma coisa muito comum na nossa sociedade. Se trata de um sentimento de dor intensa, seja física ou emocional. No meio da dificuldade e angústia pode ser difícil saber o que fazer. Mas a angústia não vem sem motivo, tem uma razão para ela aparecer. Como podemos lidar com a angústia?
Davi foi pastor de ovelhas que se tornou um rei em Israel nos tempos do Antigo Testamento, mas ele fez muita besteira. Já ouvi pregadores dizerem que, mesmo que Davi tenha cometido adultério e assassinato, ele era um homem segundo o coração de Deus. A verdade é que Davi se tornou um homem segundo o coração de Deus depois que ele se arrependeu profundamente dos seus pecados, especialmente do adultério e homicídio. Até certo momento ele tentou abafar a sua angústia pelos erros cometidos. Vamos pensar agora sobre o que fazemos com a angústia. Fugimos dela, ou conseguimos encará-la na força de Deus?
A Bíblia é um livro maravilhoso porque mostra a verdade da história humana, sem colocar panos quentes em ninguém. Davi foi levado pela emoção, pela sensualidade, e de forma abusiva ele quis ter a esposa de um dos chefes do seu exército, Urias. Ele mandou que colocasse Urias – seu militar fiel – à frente da batalha e o que o deixassem ali sozinho para ser ferido pelos inimigos. Com isso ele foi morto na batalha.
Foi uma covardia de Davi e dos comandados dele que executaram essa ordem. Davi queria ficar com a mulher de Urias, a Bate-Seba. Ele adulterou e assassinou um de seus líderes militares. Não pensou mais no assunto, fugiu para negação, para o autoengano. Muitos fazem isso, fogem para uma atitude mental de inconsciência da culpa, do jeito cruel, desagradável, rude de ser. Fugir de si mesmo, pode ser a pior fuga a ser praticada.
O Profeta Natan então, enviado por Deus, foi ter com Davi e contou a ele uma parábola que retratava a injustiça. Quando Davi ouviu o relato da parábola, imediatamente disse que o personagem injusto deveria ser punido. Natan então disse que ele, Davi era o homem injusto, pelo que havia feito com Bate-Seba e Urias. De repente a ficha caiu e Davi saiu da negação e admitiu seus erros, encarando de frente a sua angústia.
Parece difícil para certas pessoas admitirem seus erros de comportamento. Às vezes são autoritárias, pessoas mandonas, que parecem ter o rei da barriga como se diz, prepotentes, arrogantes. É difícil conviver com pessoas assim que, como Davi, ficam na negação quase que o tempo todo, sempre dando uma desculpa pelo seu comportamento abusivo.
Existem pessoas que não sentem angústia, porque possuem um ego forte e boa capacidade de manejar suas emoções. Mas uma pessoa construtora emocional empobrecida, ou alguém alienado, pode não reclamar de angústia.
Outro tipo de pessoa que parece não ter angústia consciente é aquela com falta de auto-observação. Podem ser pessoas defensivas, que não se abrem, se acham poderosas por serem mais abastadas, ou com algum cargo político, empresarial ou social de relevância, ou porque são pessoas encharcadas de emoções, e com isso acreditam que tem o poder de amar. O amor maduro envolve o sentimento, mas um sentimento forte somente ainda não é amor.
Por que alguns negam ter problemas comportamentais? Por que não se auto observam e admitem isso? Talvez por não querer enfrentar sua angústia. Uma maneira de fugir, de pensar na sua angústia é ficar criticando, querendo controlar os outros e ter atitude de mandar como se os outros fossem mordomos seus. Também não sente angústia quem sofre diminuição do sentido moral. Pessoas corruptas são assim. Alguns corruptos podem ter transtorno de personalidade, porque falta o remorso, falta o sentimento de culpa, falta o verdadeiro arrependimento. Os que dizem não ter angústia, podem não ter sintomas, mas o jeito como vivem, ferindo a ética, explorando pessoas, dominadas por ganância material, não são esses os sintomas de doença do caráter?
Outra forma de fugir da percepção da angústia tem a ver com doenças psicossomáticas, que são as manifestações da angústia através do corpo. Aí entram doenças autoimunes e outros sintomas no corpo, para os quais não existe um diagnóstico de alguma doença clínica orgânica. Será que a ausência da percepção de angústia é o mesmo que ausência de sintomas? Quem não sente angústia consciente não tem sintomas de sofrimento emocional?
Alguns sintomas podem não ser tão evidentes no sentido de exprimir a presença da angústia ou ansiedade exagerada. Por exemplo, gaguejar, a presença de um tique, a enurese noturna que faz com que a pessoa volte a fazer xixi na cama, a obesidade, a agressividade verbal, o consumismo, a fissura por sexo, um vício em trabalho, entre outros.
Angústia atinge toda a raça humana. Um bebê já nasce com ela. Angústia é um mal-estar genérico, uma sensação desagradável de vazio, de faltar algo que não se sabe o que que é. Parece ser um buraco no peito, às vezes uma sensação de aperto, de opressão no tórax, um bolo na garganta, com ou sem tristeza. Às vezes, e talvez a maioria delas, a angústia vem disfarçada, ou se esconde em sintomas físicos, ou mesmo em sintomas mentais como crise de pânico, bulimia, automutilação, transtorno obsessivo compulsivo, dependência química entre outros problemas.
Lidar com angústia não é fácil. Todos queremos prazer, bem-estar, e isso é um desejo normal. Mas será possível não ter angústia nessa existência? Há algum medicamento que elimina de vez angústia inerente ao existir? Qualquer droga, lícita ou ilícita, só promete resolução da angústia, mas não a cumpre, a não ser que temporariamente, e dependendo da droga de forma muito fugaz. A dor volta.
Para lidar melhor com a sua angústia é importante observar que tipos de pensamento você mais cultiva na sua mente. Imagine um automóvel com as quatro rodas. As rodas da frente são as mais importantes porque elas levam você ao destino desejado. As rodas de trás seguem as da frente. As da frente são o pensamento, a cognição, a escolha, a volição. As de trás são os sentimentos e a fisiologia; ou seja, como seu corpo reage em função do que você pensa, do que você sente e você faz.
Para lidar com a angústia e com a depressão é importante considerar as rodas da frente: o pensamento, a escolha. Pessoas que deixam seus pensamentos se concentrarem em tragédias, pessimismo e sofrimento pessoal podem desenvolver transtornos mentais variados. Estudos sobre depressão revelam que pensamentos distorcidos e de desesperança pioram e contribuem para a depressão.
As rodas de trás são importantes no automóvel. Sem elas as da frente não conseguem dar conta do trajeto onde você quer ir. Sentimentos são importantes para o funcionamento cerebral e de outros órgãos. A maioria das pessoas tende a ficar ou no extremo de serem dominadas pelos sentimentos – a roda da frente do pensamento vem para trás, e a de trás, a do sentimento vem para frente – ou reprime demais as emoções, tira uma roda traseira.
Não são muitos os que administram bem os pensamentos e sentimentos. Isso depende de aprendizado, que eu chamo de psicoeducação. É aí que se aprende a pensar melhor corrigindo seus pensamentos distorcidos, a focar a sua atenção no que funciona em sua vida ao invés do que não funciona, a cultivar esperança, lutar para ser otimista, ter e expressar gratidão, vencer o autoritarismo e cultivar a mansidão, parar de ficar reclamando das pessoas, da vida, de tudo; isso é psicoeducação.
Quando você deixa o pensamento ir para a roda de trás e permite que a roda traseira, da emoção, venha para frente, as escolhas, a conduta, suas relações familiares e sociais, podem se tornar problemáticas. Não porque sentimentos sejam um erro, mas porque o bom senso, a serenidade, o equilíbrio mental, não são produzidos pelo sentimento; isso não é a função deles. É a cognição, o pensamento, uma das rodas da frente que está habilitada para fazer isso. Tomar remédio para angústia e depressão e não aprender a pensar melhor é como querer que a roda de trás guie o carro da sua mente.
Faça algo para aprender a lidar melhor com as suas emoções, com a sua angústia ou tristeza. Pode ajudar uma psicoterapia, uma boa leitura, palestras, aconselhamento, retiro espiritual, grupo de apoio, leitura bíblica, a vida. Assim que você aprende a controlar os seus pensamentos, as emoções e tudo mais, você vai seguir com mais facilidade.
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Dr. Cesar Vasconcellos de Souza está trabalhando como psiquiatra e palestrante internacional. É autor de 3 livros, colunista da revista de saúde “Vida e Saúde” há 25 anos, e tem programa regular na TV “Novo Tempo”. Acesse mais conteudos no canal de Youtube.
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