José1)nome mudado pela redação tem 58 anos, está obeso, mas se sente perfeitamente saudável. Durante um check-up de rotina, José obteve a notícia de que possui gordura no fígado. Porém José não tem sintomas, não sente dores ou desconfortos além da sua obesidade já conhecida. José está preocupado, pois o médico diz que se trata de uma esteatose hepática, que se não for cuidada, pode ser tornar numa cirrose. No entanto, José diz não fazer parte de seu hábito de vida o consumo de álcool, que há 5 anos não faz uso nem de forma social. José está preocupado e chega até nós, em busca de orientações nutricionais para melhorar sua saúde e contribuir com o tratamento da doença.
DHGNA (Doença Hepática Gordurosa Não Álcoólica), tem como origem, uma inflamação no fígado em razão da concentração de triglicerídeos no órgão. A DHGNA é uma doença multifatorial bastante prevalente, associada a fatores metabólicos. Normalmente é causada por hábitos alimentares inadequados associados ao sedentarismo ou obesidade. Ela também pode surgir como uma consequência de diabetes, colesterol alto, pressão alta ou da síndrome metabólica que é um composto desses sintomas.2)Hepatologia SBd, Coelho HSM, Leite NC. Prevalência e importância da doença hepática gordurosa não alcoólica [internet]. Universidade Federal do Rio de Janeiro.; [Acesso em: 07 out. 2021]. … Continue reading
A DHGNA pode ser considerada o primeiro nível da Esteatose Hepática, um distúrbio que se caracteriza pelo acúmulo de gordura no interior das células do fígado. Ela atinge de forma silenciosa um número crescente da população, e já acomete 20% dos brasileiros. Estudos epidemiológicos têm revelado que a DHGNA é um problema de saúde pública, acometendo 20-40% dos indivíduos testados, variando conforme a prevalência da obesidade na população estudada. Um estudo mais recente realizado nos Estados Unidos com 328 pacientes assintomáticos, relatou que 46% dos indivíduos tinham esteatose, 70% eram obesos e 26% diabéticos. Estudos comprovam que um IMC > 30 e diabetes mellitus são considerados fatores de risco da evolução de esteato-hepatite para a cirrose.3)Aray Nabuco e Wilson Vieira, COMO CONTROLAR A GORDURA NO FÍGADO – Coleção Saúde Essencial
A Obesidade tem-se tornado mais frequente em todo o mundo e em todas as faixas etárias. Atualmente, há um bilhão de adultos com sobrepeso no mundo, sendo que 300 milhões deles são obesos com IMC ≥ 30. Nos EUA, em torno de 30% da população tem doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA). Isto fica ainda mais claro em obesos mórbidos, em que a prevalência de esteatose hepática fica em torno de 76 a 91%, sendo que 25 a 37% dos indivíduos evoluíram para hepatite.
É interessante notar que a prevalência de DHGNA aumenta com a idade, mas crianças e adolescentes não são poupados. A obesidade é uma doença de acúmulo de triglicerídeos (gordura no sangue) no tecido adiposo. Quando este atinge o seu limite de expansão, começa a ocorrer acúmulo das gorduras em outros tecidos, o que inclui o fígado.4)Aray Nabuco e Wilson Vieira, COMO CONTROLAR A GORDURA NO FÍGADO – Coleção Saúde Essencial
A prevalência de diabetes mellitus tipo 2 vem aumentando exponencialmente. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2030 serão mais de 300 milhões de indivíduos com diabetes em todo o mundo. Complicações macro e microvasculares podem surgir ao longo dos anos, reduzindo a qualidade e a expectativa de vida do paciente diabético. Depois da obesidade, o diabetes mellitus foi o fator de risco que mais se correlacionou à presença de doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA).5)Hepatologia SBd, Coelho HSM, Leite NC. Prevalência e importância da doença hepática gordurosa não alcoólica [internet]. Universidade Federal do Rio de Janeiro.; [Acesso em: 07 out. 2021]. … Continue reading
Em outro estudo com 195 pacientes com cirrose por EHNA (Esteatose Hepática Não Alcoólica), que foram acompanhados por cinco anos, 12,8% desenvolveram câncer de fígado. O risco foi maior em homens com idade avançada e diabetes mellitus.6)Ascha MS, et.al. The incidence and risk factors of hepatocellular carcinoma in patients with nonalcoholic steatohepatitis. Hepatology. 2010 Jun;51(6):1972-8. DOI: 10.1002/hep.23527 A mortalidade por doenças crónicas do fígado é a terceira causa de morte entre pacientes com EHNA.
Principais Sintomas
Normalmente não existe qualquer tipo de sintoma durante os primeiros estágios da doença e, por isso a DHGNA é muitas vezes descoberta acidentalmente através de exames para diagnosticar outras doenças. A DHGNA, se tratada de início, pode ser reversível, porém 30% dos pacientes diagnosticados, sofrem a evolução da doença.
Apesar de na maioria dos casos ser uma doença assintomática, em estágios mais avançados é possível que algumas pessoas sintam dor no lado direito do abdômen, barriga inchada, enjoos, vômitos e mal-estar geral. Na presença desses sintomas, deve-se consultar um hepatologista para realizar exames que avaliam o funcionamento do fígado e a gravidade da doença.7)Aray Nabuco e Wilson Vieira, COMO CONTROLAR A GORDURA NO FÍGADO – Coleção Saúde Essencial
A Esteatose Hepática apresenta três estágios, sendo dois deles reversíveis (gorduroso e inflamado), e o terceiro estágio a Cirrose Hepática, quando os tecidos agredidos do órgão se cicatrizam e a doença se torna irreversível.
Diagnóstico da DHGNA
Para avaliar a saúde do fígado, o médico pode solicitar exames de sangue, exames de imagem como ultrassonografia, tomografia e ressonância magnética e até mesmo uma biópsia, pois são exames que fornecem informações importantes sobre as alterações nesse órgão. O mais utilizado são os exames de imagem, por sua rápida e alta precisão no diagnóstico. No caso específico da DHGNA são comuns a solicitação dos seguintes exames de sangue:
O exame de Hepatograma contendo os marcadores ALT (Alanina Aminotransferase), AST (Aspartato Aminotransferase) e GGT (Gama Glutamil Transferase), que avaliam a concentração de enzimas do fígado; complementado por Albumina, Bilirrubina, Lactato desidrogenase e o tempo de protrombina. Esses exames normalmente são solicitados juntos, e fornecem informações importantes sobre a condição do fígado.
Também fazem parte da análise exames que aferem os índices de Glicose, Colesterol e Hemoglobina.
Tratamento
O tratamento deve ser multidisciplinar. Mudanças de estilo de vida e controle dos fatores de risco devem ser incentivados.
Do ponto de vista nutricional, é importante que o paciente busque uma alimentação saudável, natural e integral, aumentando o consumo de frutas, vegetais frescos e naturais e cereais integrais ricos em fibras.
Deve-se também diminuir a ingestão de alimentos processados e ultraprocessados, bem como carboidratos a base de refinados. Esses alimentos são prejudiciais ao fígado e possuem alto índice de gordura e açúcares, os quais contribuem para o excesso de peso, porta principal para hipertensão, diabetes e DHGNA. É bom evitar doces, refrigerantes, bebidas açucaradas, margarina, queijo e frituras em geral.8)https://www.sbhepatologia.org.br/pdf/FASC_HEPATO_31_FINAL.pdf
O consumo de ervas e chás podem ser utilizados como fonte de medicamentos para doença. Mas atenção! Na busca pela perda de peso para retomar a qualidade de vida, o paciente diagnosticado com gordura no fígado corre o risco de complicar seu quadro. Embora o emagrecimento seja considerado o principal pilar do tratamento, é importante que a perda de peso seja gradual. O emagrecimento rápido pode agravar a esteatose porque, antes de ser “queimada”, a gordura armazenada no corpo também passa pelo fígado, sobrecarregando-o. A recomendação é evitar a perda de peso rápida com estes produtos, pois nem sempre o produto natural é inofensivo.
Alguns chás também possuem alta eficiência desintoxicante, porém devem ser inseridos corretamente quanto a dosagem e o momento do tratamento, sob a supervisão de um médico. Do contrário, o paciente pode evoluir para um quadro de hepatite medicamentosa, que ocorre quando o o fígado fica inflamado por ação dos fitoterápicos.9)Aray Nabuco e Wilson Vieira, COMO CONTROLAR A GORDURA NO FÍGADO – Coleção Saúde Essencial Sempre busque orientação profissional de seu médico e nutricionista.
A hepatite medicamentosa pode ocorrer tanto por causa de fitoterápicos como por outros medicamentos prescritos. Nesse caso é necessário avaliar o custo-benefício e estudar a possibilidade de substituição. O uso de esteroides anabolizantes deve ser interrompido e, no caso da esteatose ser associada a outras doenças, como hipotireoidismo ou ovário policístico, essas condições devem ser tratadas adequadamente.10)Hepatologia SBd. Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica: Consenso da Sociedade Brasileira de Hepatologia [internet]. Sao Paulo; 2017. [Acesso em: 07 out. 2021]. Disponível em: … Continue reading
Não existe nenhum medicamento específico para a esteatose, porém alguns medicamentos costumam ser indicados pelos médicos para alguns pacientes. É o caso de drogas para o controle do colesterol, diabetes e obesidade.
Um tratamento fitoterápico muito interessante é a Silimarina. Se trata de um extrato de sementes da erva Silybum Marianum, também conhecida popularmente como Cardo-Mariano ou Cardo do Leiteiro, Cardo Santo, e têm sido ministrada há anos para tratar doenças hepáticas.
Estudos científicos pré-clínicos indicam que a Silimarina pode reduzir o estresse oxidativo e a consequente citotoxicidade, protegendo assim as células do fígado intactas, ou células ainda não danificadas. A Silimarina atua como um eliminador de radicais livres e modula enzimas associadas ao desenvolvimento de danos celulares, fibrose e cirrose.11)Gillessen A, Schmidt HH. Silymarin as Supportive Treatment in Liver Diseases: A Narrative Review. Advances in Therapy 37, 2020. DOI: 10.1007/s12325-020-01251-y
Em análise de tratamento com pacientes com diabetes e cirrose não alcoólica, a Silimarina também foi capaz de melhorar os parâmetros glicêmicos. Para obter o benefício máximo, o tratamento com Silimarina deve ser iniciado o mais cedo possível, quando a capacidade de regeneração do fígado ainda é alta em pacientes com doença hepática gordurosa.
A Silimarina pode ser consumida como chá ou sob a forma de cápsulas e comprimidos, de modo a complementar o tratamento indicado pelo médico para gordura no fígado, devendo ser acompanhado de exercícios físicos e mudança de hábito alimentar.
Livrar-se da DHGA exige principalmente o comprometimento do paciente em mudar seus maus hábitos de vida. É recomendável a manutenção do peso, em um planejamento que combine exercícios físicos,12)Hepatologia SBd. Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica: Consenso da Sociedade Brasileira de Hepatologia [internet]. São Paulo; 2017. [Acesso em: 07 out. 2021]. Disponível em: … Continue reading em atividades de baixa e média intensidade, com a mudança de hábitos alimentares. Alguns estudos científicos apontam benefícios no uso da suplementação de micronutrientes como a Vitamina E, Ômega 3, Vitamina D13)Hepatologia SBd. Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica: Consenso da Sociedade Brasileira de Hepatologia [internet]. Sao Paulo; 2017. [Acesso em: 07 out. 2021]. Disponível em: … Continue reading e fitoterápicos, como a Silimarina. Trata bem o seu fígado, porque ele é essencial para sua saúde.
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Elen Regina Duarte estudou Nutrição na Universidade Nove de Julho e desenvolveu uma paixão para o tema da nutrição familiar. Ela é casada e mãe de uma linda menina.
Referências
↑1 | nome mudado pela redação |
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↑2, ↑5 | Hepatologia SBd, Coelho HSM, Leite NC. Prevalência e importância da doença hepática gordurosa não alcoólica [internet]. Universidade Federal do Rio de Janeiro.; [Acesso em: 07 out. 2021]. Disponível em: https://sbhepatologia.org.br/pdf/revista_monotematico_hepato.pdf |
↑3, ↑4, ↑7, ↑9 | Aray Nabuco e Wilson Vieira, COMO CONTROLAR A GORDURA NO FÍGADO – Coleção Saúde Essencial |
↑6 | Ascha MS, et.al. The incidence and risk factors of hepatocellular carcinoma in patients with nonalcoholic steatohepatitis. Hepatology. 2010 Jun;51(6):1972-8. DOI: 10.1002/hep.23527 |
↑8 | https://www.sbhepatologia.org.br/pdf/FASC_HEPATO_31_FINAL.pdf |
↑10 | Hepatologia SBd. Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica: Consenso da Sociedade Brasileira de Hepatologia [internet]. Sao Paulo; 2017. [Acesso em: 07 out. 2021]. Disponível em: https://www.sbhepatologia.org.br/pdf/Consenso_DHGNA_da_SBH-2015.pdf |
↑11 | Gillessen A, Schmidt HH. Silymarin as Supportive Treatment in Liver Diseases: A Narrative Review. Advances in Therapy 37, 2020. DOI: 10.1007/s12325-020-01251-y |
↑12 | Hepatologia SBd. Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica: Consenso da Sociedade Brasileira de Hepatologia [internet]. São Paulo; 2017. [Acesso em: 07 out. 2021]. Disponível em: https://www.sbhepatologia.org.br/pdf/Consenso_DHGNA_da_SBH-2015.pdf |
↑13 | Hepatologia SBd. Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica: Consenso da Sociedade Brasileira de Hepatologia [internet]. Sao Paulo; 2017. [Acesso em: 07 out. 2021]. Disponível em: https://www.sbhepatologia.org.br/pdf/Consenso_DHGNA_da_SBH-2015.pdf |
Eliel diz
Muito bom os documentos enviados, Deus continue abençoando a cada um de vocês.
Meires Cristina Almeida de Ávila diz
muito boa essas informaçoēs.
Soni Marcia Pires diz
Parabéns nutry,
bjs querida.